terça-feira, 25 de setembro de 2007

Hamzanama de Akbar

A aula de hoje me fez lembrar desse trecho do artigo de Douglas A. Galbi, intitulado Sense in Communication. Vou resumir um pouco do que achei relevante.

A seção II do texto fala sobre o Hamzanama, um artefato editorial produzido pelo imperador mongol Akbar entre 1558 e 1573. Era composto por 1400 folios, organizados em 14 volumes guardados em grandes caixas. Hoje em dia o Hamzanama consiste em cerca de 170 folios espalhados pelo mundo, sendo que a exposição de um único exemplar encanta multidões como obras de arte, com sua abundância de cores e riqueza de detalhes.

O Hamzanama de Akbar exemplifica uma das primeiras manifestações em sentidos diferentes para suportar sentidos de presença mais subjetivos. Até o tempo de Akbar, as aventuras de Hamza, um romance que nunca havia tomado uma forma canônica concreta, haviam atraído o interesse de diversas pessoas da cultura islâmica durante quinhentos anos. Mas até então as histórias eram presentes apenas no discurso oral, abstraídas pelo espaço, tempo, contador e ouvintes. Para dirigir a criação do Hamzanama, Akbar então investiu muito na exploração da sensorialidade nas aventuras de Hamza.

Os folios eram dobrados no meio, tendo em uma metade uma parte escrita da história do herói Amir Hamza e na outra metade uma pintura ilustrando o que estava escrito no verso. Assim um leitor poderia contar a história e os espectadores observarem a ilustração no verso, sem chegar a ver texto algum. Essa prática era reforçada pelo fato dos folios terem 54 x 69cm. No meio do texto haviam também indicadores para mudança de tom de voz, de acordo com o desenrolar da história. Assim as pinturas e os textos foram criadas para serem complemento ao processo verbal que já era praticado, e estimulava sensorialidades diferentes numa história onde o foco era a ação do personagem. Sem contar que serviram de registro para uma história oral muito rica, cuja tendência era ser distorcida pelo tempo.

Coincidentemente, o trabalho de Akbar foi traduzido e adaptado para 992 páginas esse ano. O livro será lançado no dia 23 de Outubro.

Um comentário:

Vinícius Andrade Pereira disse...

Excelnte correlação, João. Vou correr atrás do livro.
abç